Hoje vou relatar sobre os protestos sem falar sobre os
protestos. Não estou aqui pra falar de política, ponderar sobre o que vai ou
deve acontecer, ou reclamar do que já aconteceu. Mas vou discutir algo que veio
à tona com a onda das manifestações e indignação geral que tomou conta do
Brasil nos últimos tempos: o fato de que nosso povo supostamente tão bem
humorado e afável sabe ser desmedidamente agressivo com uma figura feminina (mesmo
que alguns finjam querer debater essa última parte) somente por ser feminina.
Pessoal, não estou aqui a favor ou contra as políticas da
nossa presidenta (sim, eu falo presidenta—tá igualmente certo) (pode falar
presidente, eu deixo, não tem nada de errado, mas eu gosto de falar presidenta)
(se quiser vir me dizer que tá errado/é frescura/é idiota só faz um favorzinho
antes e enfia um nabo no traseiro). Eu nem seria capaz de fazer isso, porque
admito que sou bem ignorante politicamente, e minha única defesa é que sou
jovem e não tive instrução a respeito disso e política brasileira é
infinitamente complicada e, hey, eu nem vou estar no país nas próximas eleições
então, sabe. Enfim. Só quero deixar bem claro que isso não tem nada a ver com o
fato de eu gostar ou não gostar do governo Dilma e não tem nada a ver com o
fato de eu ser ou não ser de esquerda; não tem nada a ver com política num
geral. Entenderam? Direitinho? Não quero ninguém reclamando depois. Ok? Vamos
continuar então.
O negócio é que a insatisfação grande da população
obviamente se manifesta em críticas ao governo, por um lado ou por outro.
Pessoas que não gostam da Dilma como governante vão criticar as decisões
políticas dela, e isso tá mais do que certo. É assim que se dialoga, e meu
problema não é com isso. Dizer que um governante é “incompetente” ou “insatisfatório”
é mais do que aceitável. Até os termos mais rudes como “burro”, “imbecil”, “filho
da puta”, etc, não me incomodariam se usados porque tenho certeza de que o Lula
e todos os presidentes antes dele foram chamados disso também. Meu problema é
quando pessoas usam o fato da Dilma ser mulher, da Dilma ter trejeitos
masculinos, da Dilma não ser a Miss Universo, como munição contra ela. Insultos
que parecem dizer que a insatisfação não vem da opinião deles da Dilma ser uma
má governante, e sim do fato dela ser mulher (aí vem um babaca e pede pra eu
botar entre aspas).
Vai ter sempre um pra dizer que isso é sensibilidade demais,
que não tem nenhum problema, estou ficando ofendida com pouca coisa. Aí o
seguinte: sabiam que a nossa
Câmara de Deputados só tem 44 representantes mulheres? De 513. Isso dá 8,6%. Um
índice menor que o do Afeganistão, que o do Irã, que o de Bangladesh, que o de Burkina Faso,
que o da Serra Leoa, e que o de mais de 115 países. E não é pra se esperar menos,
né? Se mesmo a pessoa com o cargo mais alto na nossa República não parece digna
de respeito por ser mulher, o que diabos encorajaria mulheres a tentar carreira
em política?
E aí tem ainda tem mais, porque o povo se sente validado ao
trazer qualquer aspecto da aparência física da Dilma pra discussão já que ela
infelizmente decidiu não ser modelo de passarela. Porra, tudo bem ter uma
jumenta de uma mulher na presidência, mas podia ser gostosa pelo menos, né não?
Hah. Só que aí a gente sabe que se fosse uma “”mulher de verdade”” (Jesus,
tenho que engolir o vômito só de digitar isso) teríamos no mínimo o mesmo nível
de desrespeito—não só dela não saber governar por ser mulher, mas aí toma uma
onda de atitudes desrespeitosas. Vocês sabem. Os “ôo lá em casa”. Não vamos
falar muito porque me dá azia só de pensar. O único ponto em que a nossa Dilma e a hipotética "Dilma Gostosa" convergiriam seria nas surpreendentemente agressivas ameaças sexualizadas: o pessoal mostra uma faceta super bonita quando sugere violências especificamente contra mulheres como "castigo" pra Dilma, como a de que o Bruno engravide ela pra que ela possa ser assassinada. Diz muito que pessoas achem engraçado que um caso histórico de violência contra mulher seja apropriado pra melhorar o país.
Não para por aí, porque continuamos com a transfobia que o
pessoal exibe e recebe risadas, retweets, favorites, reblogs de volta. Dilma “não
parece” (O QUE ISSO SEQUER SIGNIFICA??????) mulher, então ela não deve ter nascido
mulher. Hilário. Hm... Não? Chega. Para. Para antes de nascer, como diria minha
amada Trash. A gente não precisa disso. Primeiro que não é fofo, não é
engraçado. Segundo que mesmo se fosse verdade não faria a menor diferença, e é
extremamente nojento da parte de vocês sugerir que faria. Pessoas trans* são dez
bilhões de vezes melhor do que o cocô que vocês expelem depois de comer mocotó
estragado. E aí vale a mesma coisa pro show de homofobia. Sugerir que a Dilma só pode ser lésbica, sugerir isso de maneira
pejorativa, querer “tirar ela do armário”
forçadamente. Vocês acham que é bonito dizer “Dilma, a gente sabe que você
é sapatão”? Mano. Dá uma voltinha, duas, três, agora sai andando e nunca mais
aparece na minha frente. Vejo isso vindo até de pessoas da comunidade LGBTQ+, e
aí me pergunto o que diabos vocês têm na
cabeça? Meio que me repetindo mas pela ênfase: se a Dilma for lésbica, a) não
é motivo de piada, mesmo que seja positiva (por
que ser gay seria engraçado?) b) não torna ela pior como governante c) é
decisão dela e só dela quando ou se
ela quiser sair do armário. Zeus, não é tão difícil assim, sabe.
Enfim. Chega de falação porque pessoal babaca já deve estar
me odiando a essa altura. Terminamos o post com as evidências empíricas—prints de
redes sociais e cartazes de manifestações, sim, feitos por seres humanos com
uma quantidade absurda de neurônios sendo desperdiçados com ignorância plena. Podem notar que alguns não são recentes, mas acho ainda assim relevantes. É prova de que o machismo/etc não apareceu do nada agora nos protestos, e sim só foi exacerbado. Borrei nomes, usernames e faces apesar da vontade mesmo ser de expor todo esse
pessoal. Queria backlash (se é que teria) pra que aprendessem, mas na real já sei que não
aprenderiam e sei até o que diriam. Sua
vadia, volta pra cozinha.
Ei, se você chegou até aqui e poderia se enraivecer com mais comentários machistas, cheque esse blog do Tumblr que nosso amigo Paulo encontrou. A página aborda machismo mais generalizado nos protestos, o que é sempre bom. (Abordar o machismo) (Não o machismo em si) (Qualé, gente.) A probabilidade de haver mais blogs que tenham tocado no assunto é grande, porque isso claramente é algo que andou acontecendo bastante e tem muito blog inteligente por aí. Coloquem sugestões de posts nos comentários se souberem! Sempre estaremos interessadas. Até a próxima, churretes.
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