A Nova Onda do Imperador é, objetivamente falando, o filme
mais engraçado da Disney. Parem já aí, se quiserem debater. Não tem debate.
Estou falando isso como alguém que por 12 anos não deu muita bola pro filme—sabe,
gostava quando era menor, mas não era nem de longe meu favorito, nem cheguei a
ver muitas vezes, etc. Não tenho um amor cegado pela nostalgia à Nova Onda como
tenho, por exemplo, à Pequena Sereia (eu até usaria Rei Leão como exemplo,
mas quer saber?, meu amor infinito por Rei Leão é 100% justificável também). Enfim.
Foi há pouco que notei realmente o quão bom esse filme é, e falo com todo meu
senso crítico disponível quando digo: é perfeito.
A dublagem brasileira é 80% do motivo que baseia minha
opinião. Não só porque os dubladores têm vozes fantásticas, mas porque o
diálogo foi incorporando partes da cultura brasileira de um jeito
maravilhosamente orgânico nunca antes feito pela Disney. Ao ver o filme, decidi
fazer uma lista de todas as expressões coloquiais que foram inseridas na
dublagem, mas cansei depois de meros 14 minutos de tantas que eram. Alguns poucos
exemplos: chupô limão, jaburu, jabucreia, jaburanga, jeitinho brejêro, vamo encará a gororoba, e o
quico. São expressões infelizmente tão inesperadas pra um filme animado—estamos
sempre esperando aquele diálogo rígido e antiquado a la Bela Adormecida—que por
mais simples que sejam deixam tudo mil vezes melhor. A delivery das falas também é tão vital pro humor desse filme, é
quase um crime eu escrever esse post em vez de fazer um vídeo.
Com isso em mente, entendam: há dúzias e dúzias de momentos
hilários na Nova Onda. Minha premissa original era fazer cinco piadas em vez de
sete, mas não consegui cortar a lista mais do que já tinha cortado. E enfim,
não estou listando necessariamente os momentos mais hilários, mas aqueles que
muitas vezes tragicamente me passaram despercebidos. Momentos que não seriam
necessários à história ou sequer ao humor do filme (como já disse, há muitos
outros momentos e sete poderiam facilmente ser cortados), mas que acrescentam tanto ao filme mesmo em sua
simplicidade.
#1
Montanha-Russa
KRONK: Uuuuu, mais rápido! Yzma, levanta as mãos!
Não há muito o que dizer sobre isso. A justaposição do Kronk
e da Yzma é fantástica—ele, no que podia muito bem parecer o momento mais feliz
de sua vida, e ela o contrário. Por que sequer precisaríamos de uma viagem de
montanha-russa até o laboratório? Podiam só abrir uma porta. Resolveram botar
um elemento extra só pra incluir esse momento, o que eu amo. Eu também fico
pensando sobre como a Disney é uma empresa dona
de parques de diversão e como isso pode ser uma piada sobre os
frequentadores. Gosto de sonhar.
#2
Céu
KRONK: Já olhou pro céu hoje? Tá bem azul.
YZMA: É, Kronk. *Risada nervosa* Celeste.
Toda a cena do jantar é, tipo, auge da qualidade humorística
da Disney. Poderia fazer uma lista de momentos só dessa cena e seria perfeitamente viável. Não consigo explicar
por que esse se destaca como meu favorito—o Kronk tentando distrair o imperador
pra ser cúmplice no assassinato dele, e a melhor coisa que ele consegue pensar
é que o céu tá bem azul. E aí a Yzma,
que é pra ser uma mente brilhante do mal, vai ajudar e só consegue responder celeste.
#3
Kronk Espião
Até não acho que esse momento seja pouco valorizado, mas
certamente não é valorizado o suficiente. Podem notar que até agora todos os
momentos incluem o Kronk. Isso não é coincidência. O jeito infantil,
como ele fica tão emocionado com qualquer coisinha, é simplesmente fantástico.
E eu não rio dele, mas do quão feliz ele fica. Aqui temos ele carregando um corpo, e a reação dele é
realizar sua fantasia de ser agente secreto ou coisa do tipo. Narrador Kuzco
pergunta, perplexo, “ah não, peraí, ele
tá fazendo a própria trilha sonora?” Sim. Ele tá.
#4
Parabéns na Birosca
Feliz aniversário, de todos nós pra tu, tu é muito gente fina, bacana pra chuchu. Feliz aniversário, que tudo esteja azul, tu é muito gente fina, bacana pra chuchu.
As cenas envolvendo a birosca são minhas favoritas depois
das do jantar. Que fique claro. Esse momento em particular é um dos melhores
exemplos da dublagem divina desse filme. Tu
é muito gente fina, bacana pra chuchu. Sem maiores comentários.
#5
Epifania
O camponês. Na birosca. *Pausa dramática* Ele não pagou a conta.
O Kronk tinha reconhecido o Pacha na birosca, certo. Eis que
passamos pra noite seguinte, Kronk decididamente adormecido, e acorda com uma
realização repentina. É uma das melhores subversões de trope do filme, porque
ele vende tão bem a dramaticidade só pra se lembrar de um mísero detalhe. Pacha
não pagou a conta. E não, não vamos ignorar que a tenda onde o Kronk dorme tem 30cm de largura e que ele não só dorme com um ursinho de pelúcia, e não só deu o mesmo chapéu que usa pro ursinho, mas ainda fala com o ursinho quando acorda.
#6
Anjo e Diabo
YZMA: Por que eu achei que você poderia fazer isso? Essa coisinha simples? É que nem falar com uma mula!
ANJO: Maguô.
YZMA: Uma mula grande e estúpida chamada Kronk!
DIABO: Uia.
YZMA: E você quer saber mais? Jamais gostei do seu bolinho de espinafre. Nunca!
*Kronk funga*
DIABO: Já chega! O bicho vai pegar.
ANJO: Não não, lembrem-se: virá de cima o castigo divino aos injustos.
*Olham pro lustre em cima*
KRONK, ANJO E DIABO: Tá bom também.
A outra aparição desses personagens imaginários é quase
igualmente engraçada. Subvertem o treco todo fazendo com que a gente veja o
quão louquinho o Kronk tá sendo. Mas ok, nesse em particular o que amo é: o que
motiva o Kronk pra uma tentativa de assassinato da Yzma (que nem funciona, mas
ok) é o fato dela não ter gostado do bolinho de espinafre dele. Ei, talvez o Kronk seja meio psicopata? Assunto
pra post? Nah. Não ligo. O subconsciente do Kronk usando expressões "maguô" e "uia" também é bom demais. Uma cena maravilhosa de qualquer jeito.
#7
A Explicação da Cama Elástica
GUARDA: Pela última vez, ninguém aqui pediu uma cama elástica.
INSTALADOR: Sabe, colega, podia ter falado isso ANTES de eu instalar!
Ok, esse é o último pela ordem cronológica, mas
definitivamente meu favorito. Yzma-transformada-em-gato cai lá de cima do
palácio, né, mas não podemos ter ela morrendo ainda por questões de narrativa.
A solução encontrada, óbvio, é botar uma cama elástica pra ela voltar lá pro
topo. Sabe, pelo estilo geral da Nova Onda seria totalmente aceitável só ter
uma cama elástica lá—e ei, podiam não ter feito a Yzma caindo no primeiro
lugar. Mas resolveram explicar a
absurdez de uma cama elástica num antigo império
Inca. E tem tantas coisas pequenas boas sobre isso: o “pela última vez”
como se implicando que isso é um problema frequente do império, a possível implicação de trote ao palácio, o uso
ligeiramente esnobe de “colega”, a total frustração do instalador de camas
elásticas. Não sei, sabe. É isso, gente. Acabou o humor. Acabaram piadas. It’s all downhill from here.
Espero que tenham aproveitado, e esperam que revejam esse filme estupendo e façam suas próprias listas de momentos. É uma experiência muito prazerosa, posso garantir. Talvez muitos de vocês tenham, assim como eu, ignorado ou menosprezado a qualidade da Nova Onda no passado. Que esse post dê um fim nisso. Que a Nova Onda seja reconhecida como a obra prima da animação que é. Que todos nós possamos citar as incríveis piadas pelo resto de nossas vidas. Amém.
Espero que tenham aproveitado, e esperam que revejam esse filme estupendo e façam suas próprias listas de momentos. É uma experiência muito prazerosa, posso garantir. Talvez muitos de vocês tenham, assim como eu, ignorado ou menosprezado a qualidade da Nova Onda no passado. Que esse post dê um fim nisso. Que a Nova Onda seja reconhecida como a obra prima da animação que é. Que todos nós possamos citar as incríveis piadas pelo resto de nossas vidas. Amém.
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