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20 de mai. de 2013

Mulheres das Estrelas

A história da astronomia é muito mais do que a história da ciência. É um reflexo de nossa cultura; uma percepção dentro do desenvolvimento de ideias e ideais da humanidade. De outra maneira, por que então chamaríamos o firmamento cósmico de "Céu" e o povoaríamos de divindades - como Apolo, o deus Sol, e Diana, a deusa da Lua, ao lado de Júpiter, Vênus e outros planetas? Por que então projetaríamos as nossas tão acalentadas lendas sobre o céu, materializando-as nos desenhos das constelações? Por que então as civilizações acreditariam que as estrelas determinavam sua existência?
Heather Couper e Niegel Henbest em "A História da Astronomia"/ São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.  

Sendo a história da astronomia um reflexo de nossa cultura, o que se sabe sobre a participação feminina nessa área?


Omega Centauri
Eu sempre gostei de admirar o céu, principalmente o noturno. Em 2006, ano em que meu pai assinou a revista Super Interessante, minha paixão por astronomia aumentou consideravelmente e, a partir dessa época eu fiquei viciada em filmes (e uma série) de ficção científica.


Alguns anos depois eu comecei a pesquisar, assistir documentários e procurar relatos sobre astrônomos e astrônomas do nosso país, procurando saber quais atitudes eu deveria tomar para poder ser uma astrônoma também. Descobri que a UFRJ e a USP eram as únicas a oferecer o bacharelado em astronomia, mas que, com um bacharelado em física, eu poderia obter uma especialização na área posteriormente. Eu queria poder ajudar na construção da história, adquirir conhecimentos suficientes para fazer parte dela e colaborar para que nós pudéssemos ir explorar o espaço – a fronteira final – o mais rápido possível.

Foi então que eu conheci Duilia de Melo, uma astrônoma brasileira que trabalha com pesquisas na NASA e é professora de física e astronomia na Universidade Católica de Washington. Infelizmente, os antigos blogs dela [1,2,3,] não são atualizados mais, mas os conteúdos ainda estão disponíveis e sua página no facebook é atualizada com informações interessantes esporadicamente. Ela também está no twitter e, nesse link, respondeu perguntas frequentes feitas por pessoas interessadas em seguir a carreira de astronomia. Duilia lançou um livro intitulado "Vivendo com as Estrelas", em 2009, e é responsável pela descoberta das bolhas azuis e da maior galáxia em espiral já registrada. Para quem se interessar, aqui está o link com sua entrevista mais recente.

No vídeo abaixo, de 2008, Duilia é entrevistada pela Globo News e fala sobre as bolhas azuis.


Duilia foi a primeira astrônoma que eu "conheci", mas (apesar de os registros mais antigos de mulheres voltadas para práticas astronômicas serem de 6000 a.C.) a primeira astrônoma a ser identificada com precisão é En-Hedu-Anna, que viveu por volta de 2.300 a.C. 

Ela era a Grande Sacerdotisa de Nanna, a deusa da lua, e esse era a posição política e social mais importante que alguém poderia ter naquela época e região. Dirigiu os observatórios babilônicos e era considerada “portadora de grande erudição”, mas as tábuas com os seus conhecimentos sobre astronomia desapareceram e “Anna” acabou se tornando mais conhecida por seus poemas.

Sua história é cercada por uma forte mitologia, mas sua existência como uma personagem histórica é confirmada pela existência de um disco de alabastro com sua imagem, por alguns registros históricos indicando sua filiação e por seus hinos e poemas sobreviventes. Após sua morte, ela foi endeusada por seus seguidores, que copiaram e estudaram e repassaram seus trabalhos por mais de 500 anos.


Disco de En-Hedu-Anna, guardado no University of Pennsylvania Museum.
Fonte: http://www.angelfire.com/mi/enheduanna/museum.html 

Enheduanna também é considerada a primeira autora da história, pois foi a primeira pessoa a colocar seu nome em seus escritos - antes dela, todos os escritos produzidos eram anônimos. Também costuma ser chamada de a "Shakespeare da Literatura Suméria".

Apesar de En-Hedu-Anna ter vivido há cerca de 4300 anos, existem várias informações sobre ela. Quem se interessar pode ver um documentário, em inglês, chamado "Enheduanna: Ornament of the Sky", que possui muitas outras informações e imagens. Ele foi dividido em 5 partes, que estão todas disponíveis no YouTube, e, abaixo, eu coloquei a primeira parte (as outras se encontram no fim do post).

A situação das mulheres astrônomas só começou a ser discutida pela sociedade no século V. a.C, depois da grega Aglaonike (ou Aglaonice) de Thessalia ter explicado os eclipses da Lua. Ela é considerada a primeira mulher astrônoma da Grécia Antiga, onde foi considerada uma bruxa por causa de suas previsões – diziam que ela era a responsável por fazer a lua desaparecer do céu, o que mostra que ela conseguia descobrir onde e quando um eclipse lunar apareceria. Sua história deu origem a um provérbio grego, que, traduzido, significa "Assim como a lua obedece à Aglaonice", que pode ser usado quando alguém estiver dizendo besteiras ou contando uma daquelas "histórias de pescador".

Aglaonike, que está sentada.
Fonte: http://www.cwsp.bg/en/htmls/page.php?id=923&category=50

Muitos e muitos anos mais tarde, uma cratera em Vênus foi batizada com seu nome – seria bem mais legal se fosse uma lua, né?

A setinha vermelha está indicando a cratera Aglaonike.
Fonte: http://apod.nasa.gov/apod/archivepix.html

Mais uma foto da cratera Alglaonike, na planície Lavinia.
 As crateras próximas são  Howe (à frente) e Danilova (à esqueda).

Uma de minhas astrônomas preferidas nasceu e viveu no Egito. Seu nome era Hipátia (ou Hipácia) (370-415 d.C), e ela liderava a escola neoplatônica de Alexandria. Foi uma astrônoma, matemática e filósofa, e desenvolveu estudos sobre álgebra, além de ter feito vários comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. Ela também era considerada uma grande solucionadora de problemas, sendo muitas vezes procurada em busca de conselhos.

Hipácia.
Fonte: http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/
Hipácia ocupava uma posição de grande prestígio na sociedade, o que era muito raro para uma mulher naquela época, mas isso não durou muito: foi chamada pagã por seus conhecimentos, além de acusada de ser uma mulher que "não sabia o seu lugar" e, assim, acabou sendo brutalmente assassinada por uma turba de cristãos fanáticos, formada por monges e seguidores do bispo Cirilo - que, mais tarde, virou santo. De acordo com alguns registros, eles retiraram a carne de seus ossos, dividiram seu corpo em vários pedaços, espalhando algumas partes dele pela cidade e queimando outras na biblioteca de Caesareum (os detalhes de sua morte podem variar de acordo com a fonte). Seus trabalhos foram destruídos com a queima da Biblioteca de Alexandria.

Em sua série Cosmos, Carl Sagan fez uma homenagem a Hipátia e falou sobre a destruição da biblioteca de  Alexandria.



Em 2009 foi feito um filme sobre ela, chamado "Ágora" (também conhecido por "Alexandria"), dirigido por Alejandro Almenábar. Revista Churros! mais que recomenda. Trailer legendado do filme:


Então, churretes, por hoje é só! Dividi o post em 3 partes porque ele estava bem grandinho, mas espero que vocês tenham gostado! E, enquanto a série "Mulheres das Estrelas" não continua, que tal dar uma olhada no filme e nos vídeos indicados? 

A linda Nebulosa vdB1
Fonte: http://apod.nasa.gov/apod/ap121026.html
Até a próxima!

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Documentário sobre En-Hedu-Anna - Partes: 1 | 2 | 3 | 4 | 5

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