Eu tive
minhas reservas pra ver Frozen. Me recusei a ver no cinema porque não queria
contribuir monetariamente e quase por birra quis boicotar totalmente e não
assistir. Acabei vendo no Putlocker pra me sentir mais no direito de julgar.
Talvez a minha opinião seja vista como parcial porque já não gostava do filme
(ou da ideia dele, melhor dizendo) antes de ver, mas vê-lo só me deu mais
argumento ainda pra achar blé. Aqui trago meu arsenal.
Mas, Betina, Por Que
Você Não Gostava Desde Antes?
1) A Brancura, ou
Disney, Para De Fazer Princesas Iguais, Faz Favor
Rapunzel, RapunzElsa, RapunzAnna, e ElsAnna em Uma Grandiosa Demonstração De Diversidade. |
Não, a Anna
ter cabelo mais avermelhado que a Rapunzel não distingue as duas. As meninas
que assistem Disney merecem muito mais do que um desfile de bonecas loiras de
olho claro com narizinhos empinados e cinturas surreais. "Mas e a Tiana? E a Mulan? E a Jasmine? A gente já tem um monte de
princesa não-branca!", por favor. Ter cinco não-brancas e cinco
brancas não é representação igualitária. Brancos constituem 15% da população
mundial (fonte: ask.com. Eu poderia pesquisar um número mais oficializado,
mas hm, vocês duvidam que seja um número tão baixo?). De 21 princesas, pra
ter uma representação adequada da população mundial atual, 11 seriam asiáticas
(5 do leste, 4 do sul, 2 do sudoeste), 3 negras, 3 brancas, 2 latinas e 2
árabes. São 18 princesas não-brancas pra cada 3 brancas. Atualmente, contando a
Elsa e a Anna, são 9 branquelonas pra 4 de outras cores. Isso significa que pra ter uma representação
adequada a Disney precisaria fazer os próximos 158 filmes com princesas não-brancas pra deixar o treco equivalente. Se passarem os próximos dois séculos fazendo isso eu perdoo Frozen. Até lá... hm. Nah.
2) Os Homens, ou Pra
Um Mantra Feminista Essa Adaptação Foi Bem Podre Em Representação Feminina
Basicamente só o que os executivos da Disney queriam saber, suponho |
Frozen
supostamente é inspirado num conto chamado A Rainha da Neve. Quantas mulheres aparecem
em Frozen? As duas protagonistas, Anna e Elsa. A mãe delas, que... morre aos 9
minutos ou por aí, como de praxe, óbvio, e... Hm... Ok, tudo bem, não tem
muitas, mas ter as duas protagonistas principais já conta, né? Tá, contar
tecnicamente conta, mas quando se leva em conta que A Rainha da Neve tinha 9
personagens mulheres pra 2 homens e 4 não-humanos é meio que ridículo. A Disney
adaptou uma história na qual a personagem principal salva o amigo dela (damsel in distress às avessas, ou seja, Tudo
Que Eu Quero Na Vida) com a ajuda de várias mulheres ao longo da jornada
pra uma história em que as duas únicas personagens femininas passam 80% das
vidas separadas. Era necessário isso? O Kristoff precisava ser homem?
(Precisava, claro, porque senão não teria o romance que todos os fãs desse
filme amam fingir que não existe). Até a rena e o boneco de neve tinham que ser
masculinizados? Por que Olaf não podia ser Olga, ou Sven ser Svenja? Que diferença faria pra história? Fazer
a escolha ativa de que uma história precisava de menos personagens femininas me
deixa tão enjoada, cara. E ainda receber a fama de ser O Filme Mais Feminista
Ever é a cerejinha no topo desse tapa na cara.
Ok, Betina, Mas Por
Que Você Não Gostou Depois De Ver?
1) A História É Sem
Sal E Mal Desenvolvida
Eu podia
passar horas falando sobre o quão decepcionante a história de Frozen foi, mas
essa crítica diz tudo e muito mais do que eu penso, de maneiras muito mais
eloquentes e elaboradas. Pra quem não fala inglês, ou tá com preguiça, aqui vai
um resumão: personagens não foram bem desenvolvidas. Pontas não foram atadas. Muita
coisa irrelevante e desnecessária, pouca construção narrativa decente. Não tive
sentimento honesto de satisfação no final por causa desses defeitos. E eu meio
que entendo por que a história foi tão medíocre, já que Frozen supostamente
passou por centenas de alterações de roteiro. Mas isso não perdoa uma história
medíocre vindo de um estúdio com tantos recursos e talentos. E, talvez mais
importantemente...
2) O Troféu Metafísico
de Hino Feminista/Progressivo
Eu não vou mais aceitar essa merda. Diz tudo, Elsa. |
Eu
suportaria Frozen muito mais se não tivesse toda essa maldita hype excessiva. Frozen
não merece a coroa que recebe, e o meu problema com isso é diminuir a qualidade
do que nós como audiência esperamos de nossos filmes. Se a Disney olhar pra
essa recepção crítica e pensar "ótimo,
todo mundo amou, não precisamos mudar mais", hã, eu vou ter um sério
problema de Decepção Clínica. Vocês querem idolatrar um filme da Disney por ser
feminista e progressivo? Eu vou dar um filme pra vocês, meu Deus. Eu vou dar
três, em ordem de importância.
Lilo & Stitch
Ohana, caramba. Esqueceram? |
Pra tanta
falação de "primeiro filme de irmãs que se amam!" pessoas parecem ter
uma baita amnésia pra esquecer dessa maravilha de filme. Quem liga que a Lilo e
a Nani não são tecnicamente princesas? A história delas é cem vezes mais bem
formada e satisfatória que a de Frozen de qualquer jeito. Elas não precisam ser
princesas, são perfeitas do jeito que são. E nota: de brancas elas não têm
nada, Deus seja louvado. A Nani é uma adolescente de 19 anos que trabalha pra
sustentar uma irmã numa casa gigantesca. Ela tem um interesse romântico mas
expressa não ter tempo pra (e, portanto, vontade de) ter um relacionamento,
porque tem que se dedicar à irmã — o que, pra mim, é muito mais genuíno do que o
estilo "romance não importa só que
no final vai importar de qualquer jeito já que existe o Kristoff, galera! Olha
só como é conveniente fingir radicalizar mas dar essencialmente na mesma de
sempre!" de Frozen. A Lilo, como personagem solo, é mais desenvolvida que as duas irmãs escandinavas juntas. A gente vê ela não lidando bem
com a morte dos pais, ela sendo solitária e teimosa e excêntrica, e ela é só
uma criança. Que personalidade que a Anna e a Elsa têm? A Anna é... desastrada.
Ok. É Isso. A Elsa não é nada. As duas são bonitas. Sei lá. Tanto faz. Quem
liga, elas são mulheres de qualquer jeito, pff.
Atlantis
Aposto mais apropriado: "O Filme Esquecido" |
Incluído
mais pelo fator racial do que feminista, porque wow, gente com pele escura em
papéis importantes, Deus me livre, o que deu na Disney? O povo de Atlantis tem
toda uma cultura riquíssima (mais rica do que qualquer coisa exposta em Frozen)
que só os vilões da história não respeitam. Mas mesmo o fator feminista ainda conseguiu
ser mais eficiente do que Frozen. Audrey Ramirez é uma menina adolescente que
trabalha como mecânica e especificamente menciona uma irmã que luta boxe? Oi,
papéis de gênero? Vocês acabaram de levar um soco na cara (e não, o Kristoff ser mais "macio" não chega nem aos pés
disso). Posso acrescentar também que a Audrey não segue um padrão de beleza
típico da Disney já que é bem mais baixinha e gordinha do que a típica princesa
e mesmo assim é linda. E ei, que tal a mãe da Kida que se sacrifica pra salvar
Atlantis, numa cena tão curta e ainda assim mais envolvente do que qualquer
coisa que a Elsa demonstrou? Parece uma piada que ninguém lembra desse filme
quando vai bater palma pra Frozen.
Valente
Aqui vai um relacionamento platônico bem elaborado, caso não se lembrem |
Em terceiro
lugar porque tenho problemas com o fato de todo mundo nessa história ser
branco, mas, hm, como é que agem como se Frozen fosse mais feminista que
Valente? A história inteira de
Valente é centrada no conflito e na interação constante entre duas mulheres. Uau,
Anna e Elsa se amam, beleza, só que elas ganham o quê, 10 minutos totais de
interação na tela? Patético. Merida e Elinor praticamente só interagem uma com a outra. Os homens de Valente só recebem um subplot bem
irrelevante que, mesmo assim, adivinhem, é resolvido pela Merida com a
inspiração da mãe dela. O romance na trama é usado 100% instrumentalmente, só pra aumentar a tensão entre a Merida e a mãe.
A Merida não fica com nem beija nenhum menino no final, nem como prêmio de
consolação. Ela tá totalmente desinteressada em menino algum, e a história
respeita isso. A Elsa não recebe interesse romântico, mas ela não recebe quase
nada pra início de conversa — a gente não faz a menor ideia se ela quer alguém
ou não, diferente da Merida que expressa
querer ficar solteira. Já a Anna, que tem uma música toda sobre querer
encontrar amor, hã... Nem vou me dar ao trabalho.
Mas, Betina, Eu Achei
Bonitinho!
Tudo bem. Não tenho problema algum com gente que gostou do
filme (mesmo se eu tivesse, ei, quem liga pra minha opinião? Me chama de
recalcada e continua a vida). Eu só não aguento botar num pedestal quando tem coisa
tão melhor por aí que merece bem mais crédito do que Frozen. Ei, eu também acho
Anna e Kristoff uns fofos, também cantei "Do You Wanna Build a Snowman?" com vozinha aguda, etc. Esse
post não condena completamente o filme, só a visão de que ele é a perfeição que
a Disney nunca antes criou. Não é nem perfeito nem único. Próximo, por favor.
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