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11 de abr. de 2014

Sobre Ir a Bares Sozinha

           Semana passada, meu amigo Álvaro me liga dizendo que tá caminhando aqui por perto e vai passar no meu dormitório pra gente se ver. Ok. A gente conversa por um tempo depois dele chegar, e ele comenta que não sabe o que vai fazer mais tardeé onze da noite de quinta-feira (que, pra nós, é sexta-feira parte I) na Cidade Que Nunca Dorme, flor da idade, etc. Eu não tinha nenhuma pretensão de sair de casa, porque queria dormir cedo pra me castigar por ter procrastinado a semana inteira e tudo, mas ele diz algo que me faz repensar. "Não tenho nenhum amigo pra ir comigo, provavelmente vou sozinho". Eu comento que tenho vontade de fazer isso algum dia, assim, tipo, só pra ver o que acontece. "Tipo um experimento sociológico," eu explico, bem Sprouseana.

           Mas por que não fazer nessa noite mesmo, né? O que exatamente me impede? Já que ele queria ir num bar gay e eu num hetero, teria uma separação. "Mas a gente troca mensagem durante a noite, pra se informar e tal." Ficou combinado. Eu decido ir num bar chamado Fat Black Pussycat, por ser o mais perto de onde eu moro. Me visto de preto, salto curto e grosso, blazer fino, batom marrom avermelhado, naquelas tentativas de parecer mais velha. E vou. Eis a história.


23:58 Eu > Álvaro
lol entrei sem ninguém pedir id

           O bar é legal, mas eu sou claramente a pessoa mais nova. O que não é exatamente um problema, e de qualquer jeito eu não tô ligando pra o que o resto do pessoal lá pensa. Tem uma mesa de sinuca no fundo, atualmente inutilizada, mas eu sou péssima em sinuca de qualquer jeito. Sento no balcão, fico olhando ao redor, percebendo que não tenho nada pra fazer lá. Não quero comprar drinks, são muito caros. Não tenho ninguém com quem conversar no momento, e não tenho audácia pra ir ativamente puxar papo com desconhecidos. Vou pro meu telefone.

00:03 Eu > Álvaro
não tive nenhuma interação, uau. sei que pessoas notaram quando entrei porque sou a mais nova aqui, mas não acho que vão vir falar comigo
00:08 Eu > Álvaro
dois caras acabaram de falar comigo e eu menti que tava no terceiro ano lol

           Kevin e Stephen são os nomes. Me perguntam se eu estou sozinha, eu digo que sim. Me perguntam por quê, eu digo que tava afim. Conversa, conversa, piadinha, piadinha, etc. Olha, eles claramente tão flertando comigo de algum jeito ou outro. Mas eu não ligo. Eu geralmente não sei como responder flerte algum, principalmente vindo de dois caras obviamente mais velhos que eu. Ignoro.

00:09 Álvaro > Eu
Lool uhuu ..bonitos ??
00:09 Eu > Álvaro
nah, mas aprecio a conversa. ciência etc

           Entre as normalidades de conversa de bar, entre os soltos "you're very pretty" e a inevitável descoberta de que, uau, eu sou brasileira, que maneiro, super exótica, bla bla blá, Kevin me diz que tem um amigo que produz videoclipes e que eu seria perfeita pro papel. Eu fico cética. Que trova óbvia, cara. Eu digo que sou uma péssima atriz. Ele diz que o papel é pra ser uma serial killer que mata homens por diversão, e tem que ter uma aura bem misteriosa e poderosa, e que eu tô fazendo perfeitamente, quer esteja atuando ou não. Eu fico mais cética ainda. Digo que não sou legalmente permitida a fazer isso, ganhar dinheiro fora do campus da minha universidade e tal. Ele diz pra eu não me preocupar. Me passa o contato dele, sem pedir meu telefone nem nada. Eu fico menos cética. Gente, eu sei lá quem o Kevin ou o amigo dele é. O site que ele escreveu parece legítimo, mas né. Eu não vou estabelecer nenhum contato com ele, e fico aliviada por ele não ter pedido meu número. Mas que fique como uma história. Tenho cara de serial killer que mata homens por diversão. That's the dream.

00:27 Eu > Álvaro
acho que vou embora daqui a pouco, talvez tente um outro bar

           Me despeço do Kevin e do Stephen e saio pra rua. O segurança me diz boa noite na saída. A rua tá molhada, chuviscando de leve, eu sem guarda-chuva. Quem liga. Dobro a West 3rd, desço a Macdougal procurando um outro lugar. Tem o Café Wha?, mas quando desço as escadas vejo que tenho que pagar 5 dólares pra entrar. Não, valeu. Continuo caminhando. Me deparo com Macdougal St. Alehouse, escrito singelamente num prediozinho apertado. Desço.

00:32 Eu > Álvaro
nossa achei um muito quieto
00:33 Eu > Álvaro
tipo a música é tão silenciosa e o dono tá sentado numa mesa junto com a galera hahaha
00:33 Álvaro > Eu
Isso e bom ??
00:34 Eu > Álvaro
é interessante

           O dono me para quando eu entro, perguntando se eu já tava ali antes. Eu digo que não. Ele pede identidade. Eu mostro. Ele pergunta se é italiana, eu digo não, brasileira. Ele me devolve com um aceno de cabeça, eu sento numa mesa já que o balcão (pequeno) tá lotado. Todo mundo ali parece se conhecer. Parece que o bar é tão pequeno e casual que todo mundo ali é amigo. Ninguém entraria sozinha. Ninguém falaria com alguém que entra sozinha porque tão se divertindo com os amigos. E eu aprecio isso. Eu consigo ouvir as conversas, e eu vejo pessoas jogando sinuca, e o dono bebendo cerveja, e eu gosto. Mais cedo eu fui no parque quando tava cheio de gente, o céu ainda azul, num dos primeiros dias de primavera que essa cidade teve no ano. Eu me senti tão feliz de saber que aquelas pessoas todas (ou a maioria, sei lá) se divertiam ao meu redor. A observação silenciosa de que é bom estar viva, e de que eu podia perceber isso mesmo sozinha. Eu não fiquei muito tempo na Alehouse, e ninguém veio falar comigo, mas foi suficiente pro experimento ser classificado como bem-sucedido. 


00:46 Eu > Álvaro
ah voltei pra casa fiquei com frio e vontade de mijar

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